Conhece Patrícia Afonso, motorista da Rede Expressos
Fã de motas, Patrícia Afonso herdou o “bichinho” dos autocarros do seu pai, que a levava nas viagens. Hoje, é uma das dezenas de mulheres motoristas da Rede Expressos.
É alguns minutos após ter terminado o seu primeiro serviço habitual do dia, que liga Ourém a Lisboa, que conversamos com Patrícia Afonso, motorista da Rodoviária do Lis e da Rede Expressos. Depois de quase uma década atrás dos volantes destas empresas, sente que já conheceu muito mundo devido à profissão e está preparada para conhecer ainda mais, sempre com um sorriso no rosto e um “bom dia” para cada passageiro.
Há quantos anos está na Rodoviária do Lis?
Estou há nove anos, mas tenho acarta há quinze. Estive no exércitoseis anos e tirei lá as cartas todas.Fazia transporte de passageiros.
E como surgiu essa vontade de conduzirveículos pesados?
O meu pai era motorista de passageiros e quandoentrei no exército surgiu a oportunidade de tirartodas as cartas. Assim que entrei aproveitei logo.
É um gosto que corre na família?
O meu pai sempre fez serviço privado, para aCâmara Municipal. Depois comecei eu na Rodoviáriado Lis e, neste momento, o meu irmão também estápor cá, na Rodoviária do Oeste.
Tem recordações de andar com o seu pai deautocarro?
Sim, muitas. Daí também o fascínio, porque elelevava-nos muitas vezes quando ia buscar tunasacadémicas ou ranchos folclóricos, por exemplo.Tínhamos a parte boa, que era ir passear, masdepois no final chegava a parte má porquetínhamos de o ajudar a limpar (risos).Mas também penso que ele passava muito tempofora, acabava por estar um pouco ausente, e agoraacabo eu por ficar longe da minha filha, que tem 15anos. Antes da pandemia ficava mais, porque faziamais serviços internacionais, atualmente já consigoir todos os dias a casa.
Que destinos internacionais costumavafazer?
Mais recentemente fiz Lisboa para Sevilha, mascheguei a ir para Paris, para Madrid, para Barcelona.
Gosta mais de andar por Portugal ou ir aoestrangeiro?
Sinto que já abrandei o ritmo, até porque assimconsigo ter contacto direto com a minha filha, queestá numa fase que precisa mais da minha atenção.Mas o trabalho já me deu oportunidade de conhecersítios que se calhar nem pensava ir.É a melhor parte do trabalho, na verdade.
Por cá quais são os seus serviços regulares?
Começo às 6h30 em Ourém, chego a Lisboa entreas 8h15 e as 8h30. E depois regresso às 17h30.Entretanto estou sempre como carro de reforço, sefor necessário em caso de atraso de colegas.
Estes serviços regulares são os maisconfortáveis, não é?
Sim, mas também gosto de ir à descoberta. Jáfiz linhas pela primeira vez, não conhecendo asparagens, mas, com o trabalho de casa bem feito ealguma atenção, não há que enganar. Mas tambémse eu não souber, pergunto aos colegas, tal comotambém ajudo alguns que não sabem. Por exemplo,agora vamos mudar de paragem no Porto e eu jásou do tempo em que parávamos na Batalha, e jáperguntei a muitos colegas como é, se já lá foram.
Nesses momentos, e noutros durante oseu dia-a-dia, sente que existe algunspreconceitos em relação às mulheresmotoristas?
Ainda sinto, mas menos que antigamente. É ummeio dominado por homens, mas os meus colegassão muito prestáveis. Quando tirei a carta, eespecialmente no meio em que estava, as pessoasficaram muito surpreendidas. Ainda há passageirosque ficam surpreendidos e me perguntam se soueu que vou a conduzir, se já tenho a carta há muitotempo. Outras pessoas ficam contentes por eu sermulher, dizem que somos mais simpáticas e maisatentas que os nossos colegas homens.
Falando dos passageiros, tem algunsregulares, com os quais também já temuma relação?
Normalmente os que vêm de manhã regressamcomigo à noite. Dizem-me sempre “bom dia” comum sorriso e despedem-se com um “até logo”. Jáconhecemos as rotinas e é muito engraçado.
O trânsito é uma das piores partes daprofissão?
Sim, especialmente porque chego e saio de Lisboasempre à hora de ponta. Tenho sempre de fazeralguns desvios para não atrasar tanto, mas ospassageiros regulares já estão habituados. Depoishá sempre aqueles condutores que não fazempisca, outros que não respeitam as distâncias.Levamos muitas pessoas e precisamos de espaçopara travar, temos de ir sempre muito atentos.
Gosta de ir a ouvir música durante aviagem?
Levo sempre o rádio ligado, para ouvir música,mas também para ouvir notícias, porque quandochego a casa desligo tudo. O trânsito tambémé importante, para saber que estradas tenho deevitar.
E enquanto passageira, o que valoriza noserviço da Rede Expressos?
A cobertura do serviço, é muito abrangente.Evoluímos muito tanto em destinos quanto emhorários. As apps, tanto as dos motoristas quantoas dos passageiros, também são muito práticas evieram ajudar toda a gente.
De todos os destinos para os quais a RedeExpressos viaja, qual é o seu favorito?
A região Norte é a minha favorita, ainda que eu sejado Oeste. Por isso adoro ir ao Porto, à Régua...É também aí que mais gosto de ir de mota.
É um hobbie?
Sim, há uns anos tirei a carta de mota que era aúnica que me faltava e hoje tenho uma mota. Façoparte de uma associação de motoristas e guiaschamados “BUS Driver”, aliás sou a sócia número13 e primeira mulher. Unimo-nos pelo gosto pelasmotas e nos encontros não se fala de autocarros.